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Diversidade estampada na cara, maquiagem sem gênero e democrática. Com essas bandeiras, Andy Rodrigues @andyrodriguesmakeup, o maquiador influencer mais babado dos últimos tempos, reina na internet – e fora dela. Karina Hollo @karinahollo

Andy Rodrigues começou na vida de maquiador por causa da mãe. “Ela é hemiplégica [alteração neurológica em que ocorre paralisia em um dos lados do corpo] devido a um AVC e, na minha formatura de ensino fundamental, na oitava série, todas as mães iam estar arrumadas. Mas como sou de família bem, bem simples, as mulheres da minha família não se maquiavam, não tinham nem condições de frequentar salões de beleza.” E foi assim que Andy resolveu aprender a maquiar. “Corta para minha formatura de ensino médio. Eu já estava trabalhando como recepcionista de um hospital para fazer meu curso de maquiador. Então, já no terceiro ano, quando todo mundo se pergunta o que que vai fazer da vida, eu já queria ser maquiador.” Andy sempre gostou de desenhar, de arte e hoje confessa perceber o quanto gosta da transformação que pode fazer na vida de uma mulher ou de uma pessoa por meio da make. Ele conta que não passou pela crise dos 30, mas encarou a idade com muita festa e com muito carinho. “Mas passei por situações difíceis na infância. Meu pai era alcoólatra e foi diagnosticado com psicopatia ativa. Minha mãe é hemiplégica por causa de uma violência doméstica. E essa história é bem traumatizante na minha cabeça. Sempre foi. Eu sempre fui muito colado com a minha mãe, muito junto da minha mãe, muito cúmplice dela. Tenho flashes de episódios violentos e de abuso por parte do meu pai

com ela. Hoje eu consigo perdoá-lo, mas infelizmente ele já não está mais entre nós. Eu gostaria de ter tido a oportunidade de conversar com ele para entender o porquê de tudo isso.”

O poder da maquiagem

A relação de Andy com a make realmente começou para deixar a mãe mais bonita, para melhorar a autoestima dela. “Quando notei que de fato tinha um dom, minha mãe também me estimulou a fazer um curso e começar a trabalhar.” Ele se formou em Porto Alegre como maquiador e foi logo contratado pela rede de salões da própria escola. Em pouco tempo foi trabalhar em um salão perto de casa e lá passou por toda essa virada de mercado. “Eu sempre falo que quando eu comecei na maquiagem não existiam ainda as blogueiras. Elas estavam iniciando, não existia Instagram. A área não tinha dado esse boom, principalmente no mercado nacional. As pessoas iam aos salões para fazer cabelo e se maquiavam em casa. Hoje, se maquiam no salão e fazem o próprio cabelo em casa”, analisa ele, que deu essa entrevista fazendo uma conexão em Dubai.

E tem mais: para ele, maquiagem não tem gênero. “Quando a gente compra uma base na loja, não está escrito base para mulher. Está escrito base. Pele, todo mundo tem. Gosto de democratizar e de simplificar. A maquiagem não precisa ser um bicho de sete cabeças. Ela pode ser simples. Todo mundo pode fazer maquiagem como uma forma de autoconhecimento – e isso é incrível. A gente pode brincar. E se errou, não precisa se preocupar. Não é uma tatuagem. Lavando o rosto, sai! O que mais tento falar e passar para as minhas seguidoras é: permita-se tentar sempre.”

Um portfólio online

A internet faz parte integrante desse processo. “Quando ela veio eu sempre acreditei que seria um portfólio online gratuito para mim. Quando eu comecei, tinha no máximo o Facebook. Vi que o Instagram poderia ser um jeito para eu mostrar meu trabalho e atrair mais clientes.” Mas como? “Com o tempo, fui vendo que poderia fazer muito mais do que só atrair clientes. Poderia atrair marcas. E fazer da internet uma coisa muito mais rentável.” Ainda assim, até a pandemia, Andy encarava a internet apenas como um plano B. “A virada de chave foi, de fato, a pandemia. Quando eu vi em 15 dias uma agenda de um ano inteiro se esvair, fui estudar as redes sociais e criei uma rede social do zero para realmente monetizar – que foi o caso do meu TikTok, que até hoje é a minha maior rede social.” Daí vem a história que ele sempre fala que existem influencers que se maquiam e que ele é um maquiador que é influencer. “Primeiro de tudo, vem um maquiador. É por isso que as pessoas acreditam tanto no que eu falo sobre produtos! Hoje, quem senta na minha cadeira são pessoas que realmente sabem valorizar um bom profissional. Tenho anos de carreira e uma marca consolidada.”

Nada soft

O estilo de make do Andy é bem glam, uma pele bem construída. “Não gosto de pele nada, não gosto de maquiagem muito básica, muito soft. Não é meu estilo, sabe? Eu gosto de bastante contorno, eu gosto de transformar as mulheres mesmo, de transformar quem se senta na minha cadeira, desse extreme makeover. As minhas clientes me procuravam exatamente por isso: porque elas queriam afinar o rosto, levantar nariz.” Ele conta que a sua marca registrada é manter a barba. “Por mais baixinha que ela esteja, sempre está ali, visível. Faço questão de mantê-la porque me amo de barba. Também tem os contornos. Popularizei muitos os contornos e sempre usei mesmo antes de ser moda. Gosto de mexer com luz e sombra.”

Inspira, respira

Quem é fonte de inspiração para o Andy na make é o Samer Khouzami, um maquiador libanês que começou com essa história dos contornos há muito tempo, e com montagens, viralizou muito. “Foi um dos primeiros a fazer turnês mundiais, dando curso. Acho eu o trabalho dele sensacional, uso muito das suas técnicas.” E conta que curte também o Helder Marucci, um dos maquiadores da Kylie Jenner, das Kardashian. “Curto muito o estilo de make da Kim Kardashian, uma coisa mais bem construída, um esfumado mais bem feito.”

Make é power

“O poder da make é trazer à tona as várias pessoas que a gente tem dentro da gente, sabe? E se permitir que essas outras skins ganhem vida. Acho incrível o quanto a make pode fazer você mais sensual, mais poderosa, mais sóbria, mais elegante. Basta mudar os tons e as sombras no seu rosto para vir à tona ares novos da sua personalidade”, filosofa ele.

As marcas descobriram Andy pelo TikTok. Ele já tinha contato com algumas pelo fato de ser maquiador. “Mas quando a internet veio, elas viram além: um tipo diferente, que mantinha a barba, um cabelão, usar roupas femininas – apesar de eu acreditar que roupa não tem gênero. Eu era diferente e causava uma curiosidade. E também tem a legitimidade do meu discurso como maquiador: sei que aquilo vai funcionar ou não vai funcionar.” Andy conta que um dos segredos do sucesso é abaixar a cabeça e trabalhar, encarar a internet

realmente como trabalho. “Eu bato ponto na minha empresa: posto todo dia, faça chuva, faça sol, esteja de férias. E no horário (é como se fosse uma TV no horário). A Jurema sabe que vai entrar e entra sempre. Acho que isso é um dos grandes segredos. Assim é saber fazer um bom networking em saber ser visto, saber onde você tem que estar, saber conversar, saber negociar. Ter organização e constância.”

Quem é Jurema?

Esse bordão do Andy foi muito orgânico. “Eu sempre usei o termo Jurema porque eu acho um nome forte para chamar atenção. Em vez de chamar fulano ou psiu, eu falava, Jurema, pega aquela coisa ali para mim. Levei isso para internet. Eu vi o Jurema bombado quando na minha primeira Beauty Fair, com menos de 30 mil seguidores, em 2017, as pessoas me paravam no meio do corredor. Ali, eu entendi que realmente a minha fan base seria das Juremas.”

Bate-bola O que está na sua playlist? Música pop internacional

Último filme/série que assistiu Acabei de assistir “Barbie” no avião (sim, eu não assisti nos cinemas) e não vejo séries, elas me irritam.

Livro preferido O símbolo perdido, de Dan Brown

Como cuida da saúde mental Sendo eu mesmo e me não permitindo ser influenciado pela energia negativa de quem nunca construiu nada e quer me criticar.

Ritual diário de autocuidado Assistir tevê com meu marido depois do meu skincare noturno.

“Quando a gente compra uma base na loja, não está escrito base para mulher. Está escrito base. Pele, todo mundo tem. Gosto de democratizar e de simplificar. A maquiagem não precisa ser um bicho de sete cabeças. Ela pode ser simples. Todo mundo pode fazer maquiagem como uma forma de autoconhecimento – e isso é incrível!”

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