em Colunistas, Monique Abrantes

“Toda mudança que se distancia muito do cabelo natural da cliente não tem um bom resultado. Seja em relação à cor, seja em relação à forma.” Era 2012 e eu, editora-assistente da até então revista Cabelos&cia, entrevistava um cabeleireiro, que, infelizmente, não me recordo o nome, para uma pauta sobre alisamentos. Aquelas aspas ficaram gravadas na minha mente em uma época em que cabelos crespos eram deixados retos e com um brilho artificial e as mechas, seja em qualquer tipo de fio, marcadas e contrastantes.

Alguns anos depois, surpresa: no relatório de tendências da WGSN, empresa que estuda o comportamento mundial sob várias perspectivas para prever o que estará em alta nos próximos anos, a naturalidade era a bola da vez! Na seara dos cabelos, cores-base seriam as mais buscadas, luminosidade no efeito das mechas (uma prévia das morenas iluminadas?) estilos de corte mais simples e – viva! – a textura natural dos fios finalmente reconhecidos e valorizados. E a primeira confirmação daquela tendência se revelou por volta de 2015: o boom dos termos transição capilar, big chop, low poo, no poo e por aí vai.

Tudo isso aconteceu há menos de uma década. A minha conversa com o cabeleireiro visionário e a explosão da naturalidade, seja em qual protocolo for, nos serviços do salão. Inclua também nessas mudanças a minha migração de carreira: de jornalista, que apenas entrevistava profissionais de beleza sobre a teoria, hoje, me tornei uma. Sou cabeleireira formada pelo Instituto L’Oréal Professionnel com especialização em cabelos cacheados e crespos pela Academia DevaCurl. Talvez esses dois momentos na minha carreira como jornalista me fizeram virar a chave para chegar até aqui.

E por que quis seguir em uma área tão nichada? Por inúmeros motivos, mas, para resumir, listo três. O primeiro foi porque sempre me frustrei com 98% dos cabeleireiros que cuidaram do meu cabelo, mega/ultra/super cacheado. Cortes retos que deixavam o visual pesado e mechas tão claras, feitas com oxidantes fortíssimos, que chegaram a alisar meus caracóis. O segundo é a minha incompreensão do porquê de um país como o Brasil, em que 70% da população é cacheada e crespa, não ter profissionais minimamente capacitados para atender esse público. E o terceiro, não menos importante é: quem, ao invés de oferecer uma progressiva para “hidratar” ou “dar mais brilho” a um cabelo cacheado ou crespo, se desafia a ouvir uma cliente, que, na grande parte das vezes já alisou o cabelo, muitas vezes desde criança, para se encaixar em um padrão eurocêntrico inalcançável, e se propõe a oferecer um serviço com embasamento e técnica para os diferentes tipos de curvatura, está nadando de braçada.

E você? Vai nadar ou boiar?

Monique Abrantes

Colunista

Monique Abrantes é cabeleireira especialista em cabelos cacheados e crespos pela Academia Deva Curl. Como jornalista, atuou por quase 10 anos com produção de conteúdo e consultoria para empresas como Beleza na Web, Eudora, NARS, Vult e Cabelos&cia.

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