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Os exossomos atuam como uma rede de comunicadores entre células e, por isso, têm a capacidade de informar falhas que precisam ser resolvidas e necessidades que precisam ser supridas. Venha entender o que isso tem a ver com o cabelo (e a pele)!

Mônica Kato @mokato

Imagine que, de uns tempos para cá, seu bulbo capilar anda “dando defeito” e simplesmente não tem nascido um fiozinho sequer em algumas áreas do seu couro cabeludo: o resultado são espaços sem cabelo que trazem, além de preocupação, uma grande insatisfação com a aparência.

E se tudo isso pudesse ser resolvido quase que em um passe de mágica? É praticamente isso que o tratamento com os exossomos vem propondo. Trata-se de uma descoberta científica revolucionária, que tem a ver com a Medicina Regenerativa – área médica relativamente recente que visa reparar, regenerar ou substituir células, órgãos e tecidos lesados utilizando princípios do conhecimento básico sobre a biologia das células-tronco, engenharia de órgãos e tecidos e, claro, tecnologia.

Mas, afinal, o que são esses tais exossomos (ou exossomas, ambas as formas são aceitas). Ana Carina Junqueira @draanacarinajunqueira, dermatologista e tricologista, de São Paulo (SP), explica que eles são nanopartículas comunicadoras celulares: “São células secretadas responsáveis pela comunicação entre uma célula-tronco e outra. Elas se comunicam como se fossem uma corrente elétrica, por meio de liberação de líquidos dessas vesículas. Ali tem o chamado RNA mensageiro, que leva informação de uma célula para outra”, diz a especialista. Falando de uma forma ainda mais científica, o RNAm é o responsável por transmitir informação do DNA do núcleo até o citoplasma, onde a proteína é produzida.

Em meio a tantas explicações técnicas, na verdade o que mais importa entender é que, graças a essa comunicação, os exossomos têm a ação de ativação celular, “resetando” muitas células que estão paradas. “Eles dão um chacoalhão nelas e as fazem a voltar a funcionar direito”, afirma Ana Carina Junqueira. Para a Dra. Joyce Rodrigues @drajoyce_rodrigues, farmacêutica bioquímica e presidente do Grupo Mezzo @mezzodermocosmeticos, de São Paulo (SP), o exossomo consegue averiguar a necessidade exata que determinada célula tem e mandar sinalização para o organismo interagir com esses receptores e resolver o problema localizado. “Sempre digo que o exossomo é como se fosse uma IA (Inteligência Artificial) do cosmético, porque consegue identificar o que anda falhando e deixar o organismo inteligente para atuar em várias frentes”, resume Joyce Rodrigues.

Mensageiro eficiente

Trocando em miúdos, os exossomos possuem várias informações biológicas, como material genético, metabólitos (tudo o que o organismo produz que o ajuda a ser mais eficiente) e proteínas (que contribuem para a regulação das funções celulares). Ou seja, são um material extremamente vital para o funcionamento das células. “Eles podem ser encarados como um ponto de equilíbrio completo”, diz a presidente do Grupo Mezzo. “Por isso estão sendo um estouro fora do país e, tenho certeza, vai ser o foco no Brasil em 2024”, afirma. A farmacêutica bioquímica conta que no último congresso do qual participou, no ano passado, era uma aula atrás da outra tendo os exossomos como tema.

Segundo Joyce Rodrigues, um dado da Grand View Research (empresa de consultoria e pesquisa com sede nos Estados Unidos e na Índia) aponta que, até 2027, o mercado de haircare e scalpcare (cuidados com o couro cabeludo) deve crescer 6,5%. Vale destacar que, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, cerca de 42 milhões de brasileiros sofrem com algum grau de queda de cabelo.

Os exossomos não são exatamente uma novidade. Existem desde sempre, mas passaram a ser estudados mais recentemente, porque, como têm a ver com células-tronco e sua utilização “pura” não é permitida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) na maioria dos países, quando se descobriu que é possível usar parte delas (o líquido que secretam), foi o ponto de partida para se desenvolver pesquisas – a Coreia do Sul é líder nesse segmento – e, consequentemente, produtos derivados de exossomos. Hoje, eles têm origem em vegetais botânicos. “Abriu-se uma porta para um novo conceito de Medicina Regenerativa sem precisar utilizar células-tronco, mas podendo se valer de seus benefícios”, diz a médica Ana Carina Junqueira.

Como agem na origem do “problema”, ou seja, nas nanovesículas extracelulares que atuam na comunicação intercelular, os exossomos têm a incrível capacidade de “corrigi-lo”. Como? Identificando falhas e “contando” ao organismo que elas precisam ser consertadas.

Tratamento contra queda e bônus

“A primeira indicação de utilização é em casos de alopecia androgenética – a popular calvície de origem genética que acomete homens e mulheres”, define Ana Carina. Ela explica que um folículo capilar pode produzir de um a quatro fios, mas muita gente passa a possuir raiz dormente, e a produzir apenas de um a dois. “Os exossomos ajudam a produção dobrar, voltando a originar de dois a quatro fios”, diz. A médica conta outros efeitos que eles trazem: “Como regulam a atividade metabólica da raiz, o fio volta a ter atividades equilibradas de produção de sebo – com isso, regula a oleosidade –, passa a ser menos poroso, porque volta a ser mais bem formado. Estamos vendo casos até de reversão de cabelo branco”, comenta.

“Isso é um achado muito novo, não é a indicação principal dos produtos à base de exossomos e ainda não há estudos. Mas o que temos visto em relatos mundiais é surreal, me deparo, inclusive, com casos no meu consultório”, afirma Ana Carina Junqueira. Segundo artigo publicado no J of Cosmetic Dermathology, um paciente de 38 anos com queixa de falha de cabelo, além de uma mecha branca, foi tratado por quatro meses com a combinação de laser fracionado de picossegundos e aplicação de exossomos. No terceiro mês, os especialistas observaram não só o preenchimento da falha como a repigmentação do trecho de cabelos brancos.

Joyce Rodrigues, igualmente, afirma que também tem acompanhado resultados altamente positivos com a utilização de exossomos. De acordo com a especialista, sua empresa vem focando em produtos dentro da tricologia, principalmente para atuar na regeneração de tecidos. “Ao mesmo tempo em que os exossomos atuam nessa frente, também aumentam o chamado colágeno 17, que ancora o folículo no couro cabeludo. Ele é uma extensão da nossa pele e deve ter uma rotina de skincare também. Assim, nossa linha trabalha na regeneração do couro cabeludo, fortalece a circulação, diminui a queda e fixa o bulbo no couro cabeludo”, diz. Joyce afirma, ainda, que vem colhendo relatos de pessoas que tiveram fios brancos sendo substituídos por fios com a cor original. “Diminuir cabelos brancos não era nosso foco de estudo, mas estamos vendo resultados positivos na prática”, afirma Joyce.

Outros benefícios que o tratamento com exossomos trazem, segundo as especialistas, são, além da diminuição da queda e preenchimento do couro cabeludo (e também na área da barba), o aumento da densidade dos fios e o combate aos processos inflamatórios, que causam coceiras e descamações no couro cabeludo, como dermatite seborreica, por exemplo.

Acompanhamento profissional

Os exossomos vêm sendo encarados como revolucionários e, de fato, são uma promessa para substituir ou complementar tratamentos capilares tradicionais. “Acredito que sejam uma virada de chave para o mercado capilar. Uma oportunidade de acrescentar a terapia regenerativa aos tratamentos clássicos – com medicamentos à base de vasodilatadores e bloqueadores hormonais – e/ou substituí-los”, afirma Ana Carina Junqueira. Segundo a médica, há muitas pessoas que têm restrições aos cuidados com fármacos ou porque sofrem com reações alérgicas ou porque preferem alternativas mais naturais. E os exossomos vêm ao encontro dessa necessidade.

Os resultados, de acordo com Ana Carina, são rápidos. “A partir de quatro meses já dá para perceber seus primeiros efeitos, enquanto no tratamento medicamentoso, isso acontece entre seis a nove meses”, afirma. A médica diz que o uso dos exossomos no Brasil está liberado pela Anvisa desde agosto de 2023 e a aplicação – tópica – deve ser feita em consultório, por profissionais. “O produto é importado da Coreia do Sul, país que desenvolveu a pesquisa e o protocolo de uso, que é mensal e com prazo definido caso a caso. O tratamento dura, no mínimo, quatro meses, e seu custo ainda é de moderado para alto”, conclui.

61% da população sofrem com queda capilar

17,1% da população sofrem com coceira e descamação
Fonte: KBV Research (empresa global de pesquisa e consultoria de mercado)

Mais benefícios

Como o couro cabeludo nada mais é do que uma extensão da pele, os efeitos nas demais regiões do corpo também são positivos. Quando aplicados no rosto, por exemplo, os exossomos têm igualmente uma ação regenerativa, especialmente no que diz respeito à produção de melanina – ou seja, controla o melasma. Além da ação clareadora, atua no fechamento de poros e consequente controle da oleosidade. Também tem efeitos importantes na redução de cicatrizes, entre elas, a queloide.

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